Onde estão os negros na história do Rio Grande do Sul?
Estado: Rio Grande do Sul (RS)
Etapa: Ensino Médio
Modalidade: Regular
Disciplinas: História do Brasil
Formato: Remoto
– Apresentação de um ambiente virtual de aprendizagem que permita o público escolar interpretar conhecimentos históricos sobre a presença negra no estado do rio grande do sul de forma autônoma a partir de diferentes mídias educacionais produzidas pelo público acadêmico e não-acadêmico.
– Apresentar os processos de resistências negra ocorridos no Rio Grande do Sul
– Destacar conhecimentos sobre a presença negra no pós-abolição sul-rio-grandense
– Popularizar conhecimentos acadêmicos sobre a história negra do Estado do Rio Grande do Sul de forma didática.
Resistências negra no Rio Grande do Sul: Este conteúdo será abordado de forma não linear buscando um diálogo entre os tempos históricos da da escravidão e do pós-abolição. Pensando a resistência negra durante a escravidão em território gaúcho falaremos sobre os Lanceiros Negros, homens negros escravizados que lutaram na “Revolução Farroupilha” mediante a promessa de liberdade. Foram emboscados em uma armadilha e dizimados este episódio ficou conhecido por Massacre de Porongos. Adentrando no campo da liberdade pensamos o conceito de imprensa negra para mostrar como os negros buscaram se inserir na sociedade após a abolição da escravidão. Ainda na liberdade a história dialoga com a geografia onde propomos pensar territórios negros enquanto espaços da cidade que foram habitados e significados por pessoas negras.
Metodologia
A metodologia consiste no envio do link do material digital por e-mail sem necessidade de exposição prévia de conteúdos uma vez que as discussões serão levantadas após o contato com o material. Se trata de um material didático pensado para ser explorado de forma autônoma, no ambiente privado do/da aluno/a onde este público enquanto sujeito de sua história demonstra a capacidade de conduzir suas próprias interpretações sobre os temas propostos. O material didático constitui-se em uma sala de aula multimodal criada através do serviço online “gratuito” Google Docs, mais especificamente no arquivo Google Apresentações. Para acessar a ferramenta de forma geral é necessário que o/a aluno/a tenha uma conta de acesso registrada no portal Gmail. O recurso desenvolvido possibilita que o/a educando/a entre na sala de aula virtual através de um hiperlink, clique nos objetos em destaque e experimente uma variedade de Links distribuídos entre objetos, textos, fotografias, sites, páginas e vídeos. Estes hiperlinks e mais precisamente seus conteúdos vão fomentar discussões em torno de uma historiografia negra no Rio Grande do Sul através do tema “resistências negra” durante a escravidão e liberdade. Após o contato inicial com o material é aplicada uma atividade no próprio instrumento educacional buscando identificar como os conhecimentos propostos foram adquiridos pelos estudantes. Há nesta atividade a opção de tirar dúvidas e realizar sugestões pensando a horizontalidade da construção do conhecimento.
Recursos Necessários
Serão necessários para o desenvolvimento desta atividade: 1 computador ou 1 celular com capacidade para abrir documento em formato Power Point.
Duração Prevista
A atividade conta com o tempo mínimo de 2h para realização. No entanto as discussões fomentadas podem ser levadas para maior aprofundamento em demais aulas.
Processo Avaliativo
A atividade avaliativa consiste em um questionário criado no aplicativo google formulários onde são apresentadas as questões sobre os temas do material. Este documento está anexado em formato link na sala de aula virtual e consiste na última etapa a ser realizada pelos estudantes.
A sala de aula multimodal foi elaborada durante o Estágio de Docência em História – Educação Patrimonial do Curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O estágio foi desenvolvido no Museu Estadual Júlio de Castilhos de setembro a novembro de 2020 período atravessado pela pandemia da COVID-19. O material didático insere-se no compromisso de se fazer cumprir a implementação da Lei nº 10.639 que alterou a Lei n° 9.394 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) estabelecendo em seu artigo 26-A a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nos estabelecimentos de ensino. A partir desta premissa básica buscou-se compartilhar conhecimentos históricos sobre a presença negra no estado do Rio Grande do Sul a partir de uma perspectiva que valorize o protagonismo da população negra nos diferentes tempos-espaços. O objetivo de compilar e compartilhar conhecimentos locais até então pouco divulgados nos livros didáticos e em sala de aula dialoga com o campo da história pública. Embora seja uma difícil tarefa definir o que é História Pública a compreendemos como uma possibilidade não apenas de conservação e divulgação da história, mas da construção de um conhecimento pluridisciplinar atento as tensões e mudanças sociais geradas pela sociedade (ALMEIDA E ROVAI, 2011, p. 7). Para a criação da sala de aula multimodal escolhemos como cenário de fundo uma imagem que representa o quarto do ex-presidente do estado Júlio de Castilhos. O cômodo contém em seu interior mobílias antigas que buscam representar a vida privada e pública do político sul-riograndense. Numa reelaboração deste cenário buscamos apresentar materiais diversos como fontes iconográficas, objetos museais, recursos audiovisuais, e textos sobre personagens e narrativas negras do Rio Grande do Sul. A escolha dos conteúdos e valores a serem trocados revelam escolhas pessoais e coletivas dos sujeitos excluídos da sociedade. Este trabalho se faz necessário para repensarmos o campo da educação e do currículo no processo da formação humana uma vez que “o empobrecimento do caráter conteudista dos currículos, a necessidade de diálogo entre escola, currículo e realidade social, a necessidade de formar professores e professoras reflexivos sobre as culturas negadas e silenciadas nos currículos” (GOMES, 2012, p. 102) há muito tempo vem sendo denunciada nas práticas escolares. Para tanto é necessário construir propostas criativas que dialoguem com a realidade sociocultural brasileira, articulando conhecimentos científicos e conhecimentos produzidos por sujeitos sociais das mais diversas realidades (GOMES, 2012, p. 99). Ainda seguindo a autora (2012) no caminho que se encontra a demanda pela implementação do Ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, se exige a mudança de práticas e a descolonização dos currículos da educação básica, se exige “mudanças de representação”.A criação do material contou com a contribuição da professora Carmem Zeli Gil, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e de meu companheiro Ederson Ribas Machado. Após o término do material ele foi enviado para diferentes professores de escolas públicas do Rio Grande do Sul em grande maioria professores atuantes na região metropolitana da capital Porto Alegre. Estes ficaram encarregados da aplicação do material em seus espaços de atuação uma vez que estávamos em pandemia e não podíamos realizar a prática nos espaços escolares. Foi uma atividade que forneceu ótimos retornos dos alunos e dos professores também. Um dos professores criou um plano de aula em cima do material, intitulado “Eu no mundo: ética e valores” esta aula foi pensada para que os alunos percorressem parte da diversidade cultural do Rio Grande do Sul. A produção didática foi aplicada em seis escolas básicas e um Instituto Federal. Nos estágios curriculares subsequentes ao que cursei na universidade ela foi utilizada como referência de material para a disciplina. Recebi convite para apresentá-la aos colegas acadêmicos, mas infelizmente estava doente nesta época e tive que recusar, nesse sentido a professora Carmem Gil se encarregou de apresentá-la não só no curso de graduação como nos eventos acadêmicos envolvendo a temática da produção. Algumas dificuldades encontradas foram em relação ao número de alunos que participaram, estimando a grandeza de um espaço escolar foram poucos aqueles que tiveram acesso à internet ou disponibilidade para participar da atividade. Também acrescentamos que este número baixo de alunos participantes estava relacionado ao contexto histórico do qual vivíamos o contexto da pandemia da Covid – 19. Um mundo parado e doente causou em muitas pessoas sérios problemas mentais. Para finalizar, esta foi uma das atividades mais importantes da minha trajetória acadêmica, o valor que ela tem ou teve para o momento em que foi criada é muito expressivo. Infelizmente não pude dar a visibilidade que este material mereceu no momento em que foi criado hoje quase dois anos de sua existência estou buscando algo nesse sentido.
“ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira. Introdução à História Pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011. BRASIL.
Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP n. 003/2004 de 10 de março de 2004. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 maio 2004. CARVALHO, Ana Paula Comin de. O memorial dos lanceiros negros: disputas simbólicas, configurações de identidades e relações interétnicas no Sul do Brasil. Sociedade e Cultura, vol. 8, núm. 2, julho-dezembro, 2005, pp. 143-152.
DOMINGUES, Petrônio. Fios de Ariadne: o protagonismo negro no pós-abolição. Anos 90, Porto Alegre, v. 16, n. 30, p. 215-250, dez. 2009.
FLORÊNCIO, Sônia et al. Educação Patrimonial: histórico, conceitos e processos. Brasília: IPHAN, 2014. Disponível em: https://bit.ly/1VhZXdQ. Acesso em: 20 set. de 2020.
GOMES, Nilma Lino. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 98-109, Jan/Abr 2012.
HASSE, Geraldo; KOLLING, Guilherme. Lanceiros Negros. Porto Alegre: Já editores, 2006.
HINO RIO-GRANDENSE – RELEITURA. Disponível em: https://afirmawebradio.wordpress.com/2016/11/21/rafuagi-denuncia-a-farsa-darevolta-farroupilha-no-clipe-manifesto-porongos/.
MATOS, Hebe; ABREU, Martha; GURAN, Milton. Por uma história pública dos africanos escravizados no Brasil. Estudos Históricos., Rio de Janeiro, vol. 27, nº 54, p. 255-273, julho-dezembro de 2014.
MEINERZ, Carla Beatriz. Ensino de História, Diálogo intercultural e Relações étnico-raciais. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 42, n. 1, p. 59-77, jan./mar. 2017.
PERUSSATTO, Melina Kleinert. Arautos da liberdade: educação, trabalho e cidadania no pós-abolição a partir do jornal O Exemplo de Porto Alegre (c. 1892 – c. 1911). 344 f. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-graduação em História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.
POMPEU, Fernanda. Oliveira Silveira: Um dos idealizadores do 20 de Novembro. Disponível em: https://www.geledes.org.br/oliveira-silveiraum-dos-idealizadores-do-20-de-novembro/. Acesso em 15 dez. De 2020.
RAMOS, Francisco Régis Lopes. A danação do objeto: o museu no ensino de história. Chapecó: ARGOS, 2004.
RIOS, Ana Maria; MATTOS, Hebe Maria. O pós-abolição como problema histórico: balanços e perspectivas. TOPOI, Rio de Janeiro, v. 5, n. 8, jan.-jun. pp. 170-198, 2004.
SALAINI, Cristian Jobi. “Nossos heróis não morreram”: um estudo antropológico sobre formas de “ser negro” e de “ser gaúcho” no estado do Rio Grande do Sul. 144 p. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.
SILVA, Fernanda Oliveira da et al. Pessoas comuns, histórias incríveis: a construção da liberdade na sociedade sul-rio-grandense. Porto Alegre: EST Edições/UFRGS, 2017.
SILVA, Gisele Gama da. Multimodalidade na sala de aula: Um desafio. Revista Pesquisas em Discurso Pedagógico, Rio de Janeiro, p. 1-15, dez. 2008.
SILVA, Paulo S, da; LOPES, V. N.; SABALA, Viviane. Avaliação em história e cultura afro-brasileira. In: BITTENCOURT Jr., Iosvaldyr; SABALA, Viviane (orgs.). Procedimentos didáticos pedagógicos aplicáveis em história e cultura afro-brasileira. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2012, p. 90-100. VIEIRA, Daniele Machado. Territórios Negros em Porto Alegre/RS (1800-1970): geografia-histórica da presença negra no espaço urbano. 190 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Programa de Pós-graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.
XAVIER, Regina Célia L; BOHRER, Felipe Rodrigues. Africanos, afrodescendentes: imagens de Porto Alegre. São Leopoldo: Oikos, 2018. Zahavi, Gerald. Ensinando História Pública no século XXI. In: ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira. Introdução à História Pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011.”
Compartilhar: