Saberes Tradicionais no Currículo de Escolas Quilombolas
Estado: Tocantins (TO)
Etapa: Ensino Fundamental II, Ensino Médio
Modalidade: Educação Escolar Quilombola
Disciplinas: Artes, Filosofia, História do Brasil, Lingua Portuguesa, Sociologia
Formato: Híbrido
Objetivo Geral: Fortalecer a identidade de crianças e jovens quilombolas a partir de atividades
que valorizem os saberes e fazeres tradicionais de suas comunidades, a partir da interlocução
entre espaço escolar e mestras e mestres dos saberes tradicionais da comunidade.
Objetivos Específicos:
a)Reconhecer os elementos da história e da memória das comunidades quilombolas;
b) Identificar a memória, a ancestralidade e a oralidade das Comunidades como
conteúdossociais relevantes na preservação da cultura local;
c) Promover ações de valorização dos elementos culturais junto à comunidade escolar.
- História do surgimento do quilombo;
- Tradições: festas e festejos, músicas e cantigas, remédios caseiros, tipos de brincadeiras, comidas tradicionais;
- Lendas, estórias e “causos”
- Produção de alimentos;
- Transformações vividas pela comunidade ao longo dos tempos;
- O lugar onde eu vivo;
- Raça;
- Racismo;
- Quilombo como lugar de resistência
Metodologia
Para o desenvolvimento dessa sequência didática serão realizadas uma série de atividades que contemplarão:
a) a interlocução intergeracional ( pessoas mais velhas da comunidade serão convidadas a participar de: rodas de conversa, oficinas, vivências abordando os fazeres e memórias sobre a história, práticas e memórias);
b) realizar oficinas de confecção de artefatos produzidos pelos mais velhos e mais velhas da comunidade;
c) a partir da vivência ativa nas atividades festivas e culturais da comunidade produzir documentários, mostras fotográficas e podcasts;
d) a partir da narrativa dos mais velhos construir um roteiro histórico e afetivo do território;
e) assistir documentários e filmes sobre raça e racismo estrutural e realizar amplos debates com os estudantes;
f) realizar levantamento sobre as mudanças sofridas pela comunidade e impactos externos: agronegócio, mineração, entre outros;
g) realizar um circuito gastronômico na comunidade: produtos feitos com frutos locais, ervas medicinais e seus usos, casas de farinha, alambiques, engenhos, atividade pesqueira, entre outros;
h) criação coletiva, de um Instagram para divulgação da comunidade e das atividades desenvolvidas no decorrer das ações e posterior a elas.
Recursos Necessários
a) material audiovisual: máquina fotográfica, celular ou filmadora; b) computadores; c) rede de internet; d) matéria prima para confecção dos artefatos culturais ( palhas, madeira, sementes, folhas, talas, madeiras, entre outros); e) cartolinas, papel ofício e papel pardo; f) pincéis atômicos, lápis de cor, giz de cera, pincéis e tinta lavável; g) aparelho de TV, h) caixa de som portátil.
Duração Prevista
As atividades serão realizadas semanalmente e estima-se o período de um bimestre para conclusão das atividades propostas, considerando que outras atividades serão realizadas no período.
Processo Avaliativo
Nesse processo de construção, dadas suas características, a avaliação deverá ser processual e pautada na participação dos estudantes, na proatividade, interesse, realização das atividades individuais ( registros escritos, resenhas, desenhos, registros de encontros e debates) e das atividades coletivas (rodas de conversa, produção de podcasts, criação do Instagram, mapa afetivo, organização de imagens e demais registros coletados).
As atividades que propomos nessa sequência didática são um recorte de um trabalho de campo realizado durante meu doutoramento, que consistia em uma pesquisa-ação colaborativa na qual: elementos da memória e da história entrecruzavam as práticas da escola multiseriada da comunidade quilombola Lagoa da Pedra, no estado do Tocantins. Buscava no desenvolvimento dos trabalhos que suas narrativas tivessem protagonismo mesmo em uma cultura que privilegie a linguagem escrita em detrimento da tradição oral, construindo coletivamente estratégias de valorização da cultura local frente a um currículo ocidentalizado.
Assim, diante do vasto legado cultural da comunidade e frente aos processos contínuos de aculturação e colonização a que são submetidos, entendemos fundamental buscar a compreensão sobre os bens simbólicos,
sócio-econômicos, culturais, materiais e imateriais, na perspectiva da (re)construção da identidade social destes sujeitos.
Na escola, alun@s e professor@s foram protagonistas na geração de representações, e como ela é um dos instrumentos de difusão, transmissão e disseminação cultural, propomos o desenvolvimento de uma investigação sobre qual a importância de os valores civilizatórios afro-brasileiros permearem as práticas desenvolvidas na
escola da comunidade. Assim tínhamos como objetivos:
• Compreender a inserção dos valores civilizatórios afro-brasileiros nas práticas pedagógicas da escola da Comunidade;
• Identificar a memória, a ancestralidade e a oralidade da Comunidade como conteúdos sociais relevantes na
preservação da cultura local;
• Promover ações de valorização dos elementos culturais junto à comunidade escolar;
O trabalho se caracteriza como uma pesquisa-ação colaborativa e estava estruturado em dois momentos: O primeiro a sistematização e análise de elementos presentes nas vivências e experiências compartilhados com/na comunidade na perspectiva re(ver) e identificar os elementos culturais ali presentes, para tanto lançamos mão da participação intensa e do olhar atento no sentido de “estar com” a comunidade, participar das atividades cotidianas, dos momentos de coletividade, dos fazeres laborais, das festividades, das rotinas escolares, dos
momentos de formação continuada.
Realizamos uma ampla interação com a comunidade, recorrendo à memória coletiva/individual por meio de prosas nas casas dos moradores, audição atenta de causos e assucedidos, andanças pela comunidade e observação participante. O segundo momento se configurou como uma pesquisa-ação colaborativa na/com a comunidade a partir do que foi sentido, observado e analisado na primeira etapa do trabalho, na perspectiva da construção de ações que possibilitassem uma maior interlocução entre os saberes locais e a matriz curricular. Essas atividades foram propostas à comunidade escolar e a partir daí desenvolvidas coletivamente no período de um ano letivo, buscando ampla participação da comunidade e a mobilização dos saberes locais no espaço escolar. Nesse processo realizamos visita às casas de farinha, oficinas de confecção de vassouras, peneiras, e quibanos com tala de buriti, rodas de conversa com moradores mais velhos e mais velhas, contação de histórias, rodas de conversa, cortejos, participação em festejos. A proposta apresentada levou em consideração que a construção identitária é o que dá sustentação à continuidade dos fazeres e das tradições preservadas até os dias de hoje, as narrativas, que permeiam as atividades cotidianas, os festejos
e ritos que constituem um marco de continuidade da memória e o ensinamento às novas gerações.
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